quinta-feira, 31 de maio de 2007

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Back to Black
Amy: Branca com voz de negra (mais uma)

Em qualquer atividade da vida, a comparação é inevitável. Todo dia, surgem novos Pelés, Ayrton Sennas, Chacrinhas e afins. E o mesmo acontece na música.

Talvez por isso Amy Winehouse tenha dado de ombros quando disseram que seu estilo lembrava o da memorável e cativante Billie Holiday. Tal qual a americana, esta britânica de apenas 24 anos também encanta por sua voz rouca, negra e anasalada.

Pois os tempos mudaram, os costumes também, mas a filosofia continuou a mesma. Sam Philips, o lendário dono da Sun Records, berço do Rock'n Roll e Rythm'n Blues dos anos 1950, disse uma vez: "Se eu encontrar um branco que tenha voz de negro, ganharei 1 milhão de dólares". Ganhou muito mais quando achou Elvis Presley, mas isso é outra história.

Amy Winehouse era apenas um nome que soava bonito até outro dia, não fosse um CD que surgiu por acidente em meu carro, fruto do esquecimento do meu irmão. E Amy ficou lá por vários dias, em uma mídia que não continha nenhuma identificação. Por acaso invadiu o som do carro. E, depois disso, foi paixão nos primeiros acordes.

O disco em questão, Back to Black, é recente, de 2006. Contém apenas 10 canções, número relativamente baixo em uma época onde iPods de 80GB circulam por aí. Mas são 10 belas canções. Amy é conhecida na Inglaterra por seus problemas com bebida. Fruto de marketing ou não, ela transpôe, de forma cínica e provocativa, esses problemas para suas canções.

E faz isso logo na primeira frase da primeira canção, Rehab. O título não é sem querer. Ela fala justamente da insistência da família em interná-la em uma clínica de reabilitação, mas ela se recusa. Recusa sim, mas com muito funk, soul e metais cirurgicamente inseridos na música.

Destaque tbm para a canção 2, I'm No Good, em que ela se auto-declara no good para um possível ex-namorado. Uma farra, com uma batida de bateria muito envolvente.

Amy Winehouse conseguiu me surpreender. Mesmo em um cenário musical cercado de Avrils, Josses, Norahs e Corinnes, Amy corre por fora. Pode não roubar a cena, mas definitivamente tentará levar o champagne.
Back in Black

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Em Interlagos, a mais de 300 km/h numa Ferrari F430

Manhã fria, chuvosa e com ventos gélidos que parecem praticamente nos implorar para permanecer na cama. Talvez até fosse o caso, não estivesse eu prestes a embarcar em uma Ferrari F430 em cinco minutos que nunca passaram tão rapidamente.

O acontecimento ocorreu na última semana. O evento, chamado de Pósitron Racing Day, tinha como principal chamariz uma volta a bordo do bólido vermelho, avaliado em singelos R$ 1,5 milhão (cerca de míseros 3 milhões de reais), pelas curvas do Autódromo José Carlos Pace.

Além da imprensa, clientes foram convidados. Tirar uma foto do carro era tarefa difícil. Fazê-la sem que alguém estivesse ao fundo então, missão quase impossível. Cadastro feito, lá fui eu para a área dos boxes onde a Ferrari estaria me aguardando. Logicamente, estaria somente ao lado do piloto. Este sim, sentiria os quase 500 cv em suas mãos.

Ao ver o carro pela primeira vez, confesso que senti um misto de frustração com admiração. O carro estava ali, OK. Mas, cheio de adesivos promocionais colados na lataria, perdeu um pouco do glamour que cerca a lendária marca italiana. Além do mais, fatores como sujeira, aliados ao próprio cenário do dia – cinza e pálido - tiraram aquela imagem de “Salão do Automóvel” que costumam preencher nossas mentes. Não era um carro tilintando, reluzente, ao lado de uma linda modelo. Não vi nada disso por lá – incluindo a modelo – mas, inegável o fato, era uma Ferrari.

A impressão só começou a mudar mesmo quando embarquei no carro - mesmo assim, não tão rapidamente. O painel empoeirado, somados aos tapetes molhados e sujos, mais uma vez, tiraram a ideologia que tinha de encontrar um carro brilhando. Uma vez colocado o cinto, chegou a hora de acelerar.

E aí tudo mudou.

Na saída, receoso, o piloto Jorge Neto expressou sua preocupação com o piso molhado – a chuva fina ainda tomava de assalto o conforto da imensa fila que aguardava sua vez de andar na Ferrari. Em poucos segundos – ou até 4,1, segundo divulga a fábrica - o carro já atingia 100 km/h, e ainda estávamos dentro dos boxes. No sentido contrário.

Neto deu um belo giro de 180º para iniciar a volta em Interlagos, a partir da reta dos boxes. Aquela foi minha primeira volta dentro do autódromo de Interlagos. Um circuito com curvas que já estou cansado de conhecer, desde os tempos de infância quando ainda sonhava ser um piloto. Mas foi somente ali, ao vivo, na pista, que percebi não conhecer nada, na verdade. Curvas que pareciam abertas eram fechadas; as lentas, eram rápidas. E retas, até então curtas pra mim, foram longas e instigantes.

No meio do trajeto, Neto deu uns giros (ou os famosos “cavalos-de-pau”) com a Ferrari, enquanto contorcia os dedos, que subiam e desciam as marchas atrás do volante, no formato “borboleta”. O volante, aliás, traz o botão engine start, que por vezes me deixava na dúvida: era um carro de passeio ou um Fórmula 1?

E o F430 é um pouco das duas coisas. O carro conta com diversas tecnologias vindas do circo da F1, como volantes inteligentes, ou controle do diferencial, que “gruda” o veículo ao solo. Gruda, mas o talento do piloto ajuda. Jorge Neto confessou a dificuldade em segurar o carro na pista molhada, e ainda comparou a Ferrari ao stock-car que dirige em campeonatos. “O número de cavalos é o mesmo, mas o stock é mais leve”, diz, pouco antes de um sorriso previsível.

Na reta dos boxes, não cheguei a olhar o velocímetro para saber se o carro chegou aos 310 km/h prometidos pela empresa. Mesmo assim, a velocidade, aliada ao ronco do motor, impressiona.

Fim da volta, de volta ao mundo real, semáforos e faixas de pedestre. Chegando ao meu carro, notei como o tapete estava limpo e bem cuidado. O painel não tinha pó, tampouco eu ostentava propagandas na parte externa. Mas foi só puxar uma segunda, enquanto saía do estacionamento, para ver a Ferrari, ao longe, rodando pelo circuito, com o felizardo da vez. A uma distância tão grande quanto a que me separa dos milhões de reais que a comprariam.

terça-feira, 1 de maio de 2007

Fiéis Seguidores
13 anos depois, túmulo de Senna reúne os mesmos fãs

Há 13 anos, eles estão lá, faça chuva ou faça sol. Sempre, à beira de um não tão frondoso Ipê, descansam suas vistas, refletem e mantém acesa a chama do ídolo Ayrton Senna, morto em 1º de maio de 1994. E não são poucos. No Cemitério do Morumby, amantes de automobilismo, curiosos e turistas de passagem pela cidade se juntam aos que, religiosamente, estão lá todo começo do quinto mês.

“Ayrton Senna é sinônimo de esperança, sonho e vitória”, resume o entregador de panfletos Antônio Paulo Baptista, 45, ou simplesmente Senninha, como é conhecido na cidade onde vive, Capão da Canoa (RS). O gaúcho enfrenta 18 horas de viagem todo ano, e fica durante boa parte do dia ao lado do túmulo de Senna. O fã é figurinha reconhecida por muitos no local, apesar da mudança este ano – veio com um macacão amarelo, em vez do tradicional vermelho dos anos anteriores. “Queria fazer uma homenagem ao Pan”, diz Baptista, que não entrega panfletos somente em Capão da Canoa, mas também para os visitantes do Cemitério. Nos papéis, mensagens religiosas e de esperança. Na entrevista, Senninha reforça a mensagem aos governantes: “desativem a FEBEM, uma escola do crime”, enquanto revela dezenas de imagens em seu álbum ao lado de famosos globais.

A imagem do piloto Ayrton Senna ainda é forte para a maioria de nós, mas é inegável que aos poucos perde um pouco sua força. Nesse sentido, algum trabalho foi feito em 2004, quando se completaram 10 anos de sua morte, mas após isso, pouca coisa. Prova disso acontece quando chega uma mãe ao túmulo com duas crianças, de, no máximo, 6 anos: “Mãe, quem é esse aqui?” pergunta um dos meninos, apontando para um grande cartaz com recortes, cartas e fotos de Senna. Afinal, uma criança hoje com 13 anos somente sabe de Senna por imagens no You Tube ou comunidades no Orkut. Inexorável, o tempo.


Cartaz direto do Japão, em frente ao túmulo de Ayrton

Felizmente, Senna não era um herói exclusivo do Brasil, mas mundial. Isso explica, mesmo 13 anos após sua morte, cartazes vindos do Japão, ou a presença de Mechthild Hemmer, uma alemã de Colonia – terra do rival Michael Schumacher. A fã veio ao Brasil especialmente para o dia 1º de maio. “Deixei marido e filhos, que tiveram que aceitar minha decisão”, afirma. Nos anos anteriores, Mechthild não veio a São Paulo, mas a Ímola, na Itáliam no circuito que levou a vida de Ayrton. Lá, como muitos, deixa flores e homenagens em frente ao monumento de Ayrton, um enorme busto erguido no ponto onde ocorreu a batida. “Muitas crianças vão lá, é impressionante”, diz a torcedora, que aprecia o grande carisma de Ayrton. “Hoje, vejo um pouco desse carisma em Lewis Hamilton”, confessa. Ela, como muitos, não deixou de reparar nas cores do capacete do inglês, revelação da McLaren, que tem partes muito similares ao do tri-campeão brasileiro. Sobre Schumacher? “É um bom piloto, mas não gosto dele”, resume.

Por aqui, claro, o profissionalismo não é o mesmo. Não há bustos no cemitério. E a única homenagem mais forte na cidade, a controversa estátua em frente ao túnel que carrega seu nome, é constantemente alvo de vandalismo. Até alguns anos, havia pelo menos a Banca do Montanha. Lá, em frente à entrada do cemitério, um pequeno estabelecimento vendia fitas K-7 com o “tema da vitória” e camisetas temáticas, entre outros badulaques. Mas já fechou há muitos anos. No dia 01/05, somente alguns rapazes tentavam vender réplicas do capacete do piloto. Alguns chegavam a oferecer a peça para visitantes ao lado do túmulo – o preço, singelos R$ 300,00.

Baptista, o Senninha, é um dos que não cai na tentação de venda dos jovens. Ele mostra, com orgulho, um certificado de que possui um capacete pintado por Sid Mosca, o artista que criou e fazia as pinturas do acessório de Senna. “Há apenas 1.000 desses”, exalta.

Já Carlos Augusto, técnico em instrumentos musicais, não tem um capacete para ostentar. Ele possui um Corcel II, do mesmo ano ao que era usado por Ayrton. “Na adolescência, aos 17, 18 anos, ele adorava pegar o Corcel do tio e correr com o carro”, explica. Carlos tem “gasolina no sangue”, como diz. Seu pai, Augusto Orlando Virardi, faleceu em 1983 após ver Nelson Piquet bi-campeão, pela TV. O fã de 41 anos presta uma homenagem ao pai indo todo ano aos GPs de Fórmula 1 em Interlagos, como fiscal de pista. Ano passado, esteve lá, e lembrou dos tempos de Ayrton ao ver Massa vencer. “Foi um amigo meu quem entregou a bandeira a Massa” conta orgulhoso, sem esconder a emoção ao fazer a inevitável comparação com Senna.

Talvez não haja mais a Banca do Montanha. Também não são muitas flores no túmulo como era de se esperar. Mas a imagem de Ayrton permanece. Longe das pistas, discreta e serena, mas repleta de fiéis, cada um com sua história e ligação particular com o ídolo.